sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O mundo acaba na Estrada de Flores.

Me disseram,certo dia,que o mundo realmente acabaria.Pois bem,que acabe.Porém,como ultimo desejo,que o mundo acabe em flores.E que sejam elas todas azuis,assim como o céu deveria ser.Sim,o céu deveria ser azul.Mas o sangram todos os dias,e nem as flores tem o mesmo perfume.Nós estamos nos perdendo em sons alegres de desespero no despertar da tristeza.
- Mais alto,mais alto...
Até que os pássaros nos salvem de um perigo que nem nós mesmo conhecemos.Então,fechei os olhos...
Eu vi,que quando eu caminhava ficavam umas pegadas no chão.Mas,o surpreendente era que ao dar outro passo,nasciam flores no passo anterior.E conforme eu ia me afastando elas iam murchando,mas não todas,só as que me doíam quando eu pisava.Os passos mais tristes,murchavam.E nos passos que me alegravam,cresciam flores mais bonitas ainda.Depois vi que por onde eu passava eu deixava aquele rastro.Pena que só se viam flores murchas.
- O que houve com você ?
- Eu não sei,só houve.

Somos mesmo todos cegos,cheios de dor.Então quando me dizem que o mundo acabará,eu fecho os olhos e oro.É bobagem.Talvez por não acreditar nisso eu tenho gostado um pouco menos da luz.Eu queria mesmo que o mundo acabasse,pra que parassem de me perguntar se eu estou satisfeita com a cor da parede.Se eu gosto daquele cantor que está morrendo,se eu me encanto por balé e música clássica.
- Com sua licença,Senhores.Tenho que me retirar - e dou as costas,enquanto meus ombros começam a pesar.
A verdade é que o mundo acaba nessa minha Estrada de Flores.Eu só vejo beleza nelas.Eu não ouço uma única canção que me faça sentir satisfação.São todos monótonas.Creio,que serei sempre o avesso.Não por rebeldia,mas por sagacidade.Pela sede se conhecer um outro conto.É aí que o mundo acaba,quando eu deixo de caminhar,quando me deito e espero a noite consumir meu anseio.Então torno a calçar os sapatos,e olha só,o mundo recomeçando.Em flores.


                                                                                                         Elisama Oliveira

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O homem cinza

Eu não me lembro de ter gostado tanto de sótãos como eu gosto.E de livros velhos,e canções antigas.E de chuva no domingo,e de chá no fim da tarde.Eu não me lembro de gostar de velhas histórias sobre navios assombrados.Pois bem,não me recordo.Alias,não me lembro de nada.É como se tudo fosse novo aos meus olhos e ouvidos.Como se eu tivesse nascido ontem.E pensando bem,eu nasci.Das cinzas de um pássaro de fogo.Reivindicado pela astúcia do vento,pela vontade de ser reconstruído.Eu estou aqui de novo.
Mas,onde é aqui ?

Aqui -depois descobri- é o lugar onde eu havia me prometido nunca mais desviar os pés.Onde a tempestade começou,onde o mundo se acabou,onde eu me perdi.É,eu tenho essa mania de me perder de mim.De ir,e depois esquecer onde eu me deixei.Creio que,depois de tantos trovões a nossa mente fica abalada.Como se qualquer ruído significasse o fim da vida.Vida,que aproposito,eu não tenho visitado.Isso talvez explique essas manias.Nunca gostei também dessas coisas de despedidas.Onde as pessoas levam um pedaço da gente,e não ligam pro tamanho do abismo que vai se encontrar ali pra todo o sempre."Sempre",que aliás,não acaba em relação aos abismos,eles sim,duram para sempre.Tenaz,e impreciso.Essa é a definição de despedida.
Tal,que de tão ímpia,não merecia ser definida.

Já chega.São quase 16 horas,eu preciso tomar café e ir pegar aquele trem.Eu também me esqueci onde é que ele vai me levar.Mas,tomara que não me leve a lugar algum.Afinal,já sou cinza demais pra estar onde quer que deva.Acho que vou me sentar aqui,fumar todos os cigarros que puder.Talvez eu ouça uma música,e escreva uma estrofe.Talvez eu me deite sobre o carpete e beba até não saber mais o meu nome.
A vida ficou tão triste querida,tudo é cinza aqui.Eu sou.E sou também esse nó,que me tornei por ser um nós que você nunca quis.Nós não pode ser singular.Singular,é nó.E isso só combina com as cordas que alguém amarra no pescoço antes de tentar contra a própria existência.Alias,esse pensamento me faz bem aos olhos...

Não querida,só se tira a vida daquilo que ainda vive.E eu,ora veja,não sou vivo à tempos.


(Elisama Oliveira)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

É segunda-feira ,amor.

"Querido,
        vamos nos deitar sobre o mundo enquanto ele acaba."




Saiba então que às segundas-feiras minha fotos nunca vão ser boas o suficiente.Há sempre algo a fazer.
Um papel pra assinar,um telefonema que deve ser feito.É sempre uma tremenda correria ao som de um samba sem letra.E as estátuas mágicas no centro da cidade.Ninguém pára pra observá-las.Olha só criança,está chovendo.Mas não há tempo que nos permita arrematar algumas gotas na língua.O tempo não pára,nem mesmo para controlar nossa vida.O tempo também anda ocupado demais.Todos ocupados demais,presos demais,invisíveis demais.Onibus cheios,carros apressados.E nenhuma presença.Pessoas indo e vindo,assim como elas têm feito na minha vida.Porém só vão,não voltam.E até me acostumei à não tê-las por perto.


Elisama Oliveira

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

-

Faz de conta que ainda é inverno.Que há motivo pra não sair de casa.Faz de conta que eu te espero,
que de fato ainda virá.Um moço pra salvar-me do frio,do cansaço,do vazio,do abraço.Um moço pra ser meu,enfim.


                                                                    Elisama Oliveira

Nota Rápida à Inocência


Dentre todas as histórias que me contavam quando eu era criança,sempre me concentrava nas de sereias.
Seres bonitos,meio peixe,meio menina,e encantadoramente adoravéis aos olhos do Homem.Eu me imaginava
olhando por debaixo dos barcos,procurando uma sereia e esperando que ela acenasse para mim.Que por desobediencia às suas leis,ela me pegasse pela mão e me levasse pra conhecer o mar,seu mundo secreto.E quando eu voltasse pra casa ninguém acreditaria,e iria chorar trancada em meu quarto.Envelheceria com a lembrança da cauda cintilante,indo para sempre.
Ao fundo,
          mais fundo,
              mais fundo
                 mais fundo
                       e sumir...


Porém,com a juventude vem o entedimente,e as maldades do mundo em si.Foi então que descobri,sereias matam.E cantam pra caçar,e riem pra enganar.Sereias corrompem,te cegam,te enlaçam.De repente,eu fico agradecida,por elas não existirem.Mas,existem medos,existem sombras,fotos rasgadas,e o fundo perdido do oceano.E a inexistência desse ser,só o torna mais perigoso.Assim como o medo que eu tenho da solidão do quarto escuro.Então se ela vier,que me leva a tristeza para sempre,ao fundo.É eu vou envelhecer sem acreditar nas sereias,e sem acreditar em nada.Na verdade,quando não se acredita em nada nem vale a pena estar vivo.


                                                   Elisama Oliveira

domingo, 11 de dezembro de 2011

Fix You

                          "...could it be worse? "


Contudo,o que ouvi dentre todas as palavras de desanimo não houve uma única que me pudesse desfalecer a tola esperança de uma utopia demasiadamente entediante de minha vida.Depois de tantas conversas amassadas e tapetes rasgados,eu ainda estou aqui.Não sabe-se bem o que estou fazendo,nem mesmo do que eu estou falando,eu não sei onde é "aqui".Só me sinto assim.Insensível,sem me ouvir ou ver à dias.Eu sinto minha falta.Os anos passaram rápido,parece que foi ontem...


                     "Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso
                      Quando você recebe o que quer, mas não o que precisa
                      Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir
                      Preso em marcha -ré"

De repente eu me lembro do escuro,que tem sido abrigo de um escuro ainda mais profundo que eu tenho guardado com umas mãos cansadas.Cansadas de tanto me consertarem em frente ao espelho.Houve-me criança,faz em mim teu esconderijo,deixa em mim tuas promessas,teu planos falhos,teus cantos vagos.Faz criança,esses anos se esquecerem da minha voz,esses dias se apressarem na minha presença.Faz essa dor ser flor pra florescer só no inverno,e esse caminho me levar ao paraíso,sem pecados ou juízo.Eu sou criança,tua luz do quarto ao lado,teu espelho quebrado.E foi mesmo ontem,que eu te guardei de mim.Pois não suportei te expor ao desiquilíbrio dessa mente involuntária.Nessa mente onde até as flores tem veneno.


                                                           Elisama Oliveira

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Em Gotas Limpas

Chuva é como redenção.Como se os céus quisessem limpar a vida da gente.E aquela que vem no fim da tarde,depois de um calor impiedoso,ela parece levantar do asfalto mais do que fumaça.Parecem almas,sonhos,planos,pesadelos,cargas de tristeza alheia,as vezes até a minha.E o que seria a minha tristeza se não um vapor do que a falta faz.Falta de amor,de um lírio na varanda,de um cabelo bagunçado,de um peito apertado.Falta de si dentro de si à se abraçar.
"Não espere,porque eu não volto logo..."

Eram tantas cores,eram tantos pontos cardiais espalhados nos olhos do velhos amigos.Hoje o dia nasceu cinza,e já faz tempo que ele não me deixa ver outra cor.E os velhos amigos são vagas lembranças de um "para sempre" empoeirado.Ai eu canto debaixo da chuva,e parece que a redenção me enviará aos céus e me curará os ferimentos,esquecerá meus pecados e me fará dormir como se eu nunca tivesse existido.Ah,eu nunca me canso de ser livre.Mas sabe que a liberdade me entristece? Ela me prende os braços alias,me cobre os olhos,me solta os cabelos,e não me liberta de mim que é minha única prisão.A liberdade está aí,toda liberta.Cadê ela que não me deixa estar só.Então chove todas as manhãs,e as flores nunca crescem como eu quero,por isso nunca às ponho no cabelo.

-Querido,quando vier segure a minha mão pra atravessar a rua,bagunça o meu cabelo pra que ele não sinta falta das flores.Querido,quando vier faz-me esquecer como é ser só.Faz me admitir que eu não sei me acostumar com isso.E então,quando a noite chegar me abraça até que ela se vá...


Que afinal,a chuva te traga em gotas limpas para mim.


(Elisama Oliveira)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mais um dia

                       "Onde meu amor pode estar ?
                            O Senhor levou-o de mim.
         Ela se foi para o paraíso,então eu tenho de ser bom
         Assim poderei ver meu amor quando deixar esse mundo."


Foi de longe que eu vi o vestido azul,manchado por um torpor de angústia e desespero.Mas acalma-se,eram só lembranças.Então acordei de novo."Ora,se não é mais um dia..."
- Eu gostaria muito de poder colocar umas flores no meu cabelo de manhã.De poder me pintar de cinza,e encontrar o amor em uma xícara de café.Outra vez são imaginações sem sentido.Enfim,minhas.
Eu fico me perguntando onde foi mesmo que o meu relógio se perdeu.Onde ele assinou minha captura.Algo me diz,que foi aí que eu errei.Tente então,por cinco minutos soltos,se perder de si mesmo e ficar no escuro.Pra ver se o pensamento esfria,se o mundo acaba,se o coração pára.Ei,outra imaginação vã.É justo ai onde eu me perco,na minha própria vontade de viver.Dentro do meu subconsciente,que não está tão consciente assim.Onde eu me conto estórias de uma fada que não podia voar por ter tido as asas cortadas por um pássaro negro.Porém,ela não era boa o suficiente para ser uma fada.E ele,ora vejam,nunca havia conhecido os céus.É tudo tão meu lá dentro.O inconveniente,é tudo deixar de me pertencer ao fim da tarde.
- Eu gostaria muito de poder colocar umas flores no cabelo pela manhã.


(Elisama Oliveira)


sábado, 3 de dezembro de 2011

À 7 palmos

Havia um medo e uma timidez.
Outra criança adulterada pelos anos que a pintura escondia.(M.Z)



As vezes me pego às 18:15 de uma quinta feira,esperando que diante de mim todos os medos me percam.Quanto mais se tenta deixar ir,mais pra perto se é puxado.E você de novo está na porta de casa.
Por qualquer circunstancia,eu ainda tento desdar os nós feitos no abraço.Desfazer os laços dados no cabelo,e as vidas pintadas na memória.São todos fantasmas na estante.Todos,brinquedos que não me fazem graça.E toda quinta-feira parece ser o dia do reencontro.Todos os dias parecem ser aquele dia,todas a músicas parecem dizer as mesmas coisas,e os ombros sempre parecem ter o mesmo tamanho.Um tamanho insuficiente.Meus medos não me perdem,não me esquecem,só me acompanham.Quietos,comportados,cheios de gentilezas e sorriso,mas nunca (nem por mínimos momentos) se despendem da minha face.Eu me encontro à sete palmos,coberta de um sentido ainda não encontrado pra viver.Eu sou o pedaço que falta na sociedade machucada.Serei então a eterna dança da esperança maculada,o infinito desejo de ser forte,a incrédula vontade de ser só,o tamanho do pedido,o nó no abraço,o laço no cabelo.Serei então sempre minha,e da minha caneta.Sempre a moça do banco azul na quinta-feira.Enterrada com as mãos cruzadas,morta por um tiro no peito e pelo medo.Pronta pra que alguém diga: "Hora de acordar."


(Elisama Oliveira)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Quem diria,enfim disse.

Querido ouça,


Há quem ainda julgue pela cor dos olhos.Há quem busque imperfeições nas gotas de chuva.
Há quem peça silencio em meio ao desespero de estar só.Então lá estava você,com as ruas nas mãos
e o mundo nos ombros.Toda vez que lhe faltavam umas palavras eu às estendia.Umas aceitas,outras sutilmente recusadas.Como eu gostaria de te carregar no colo às vezes.Teu orgulho te envelhece tanto.Te rouba os principios.Mas eu sempre sorria por dentro quando te assistia sendo arrogante.Era tão maliciosamente gracioso.Eu gostava,assim como gostava de um pouco de café no fim da tarde.
Tudo em você parece chuva.Teu abraço úmido,teu sorriso melancólico,tudo em você sempre choveu.E eu sempre assistindo da minha janela.Ah querido,me desculpe as tantas inconveniencias.Eu tenho tentado me manter de pé depois de tantos cacos.Você entende,ah sim,você entende Querido.Lembra quando falávamos sobre a vida e você sempre achava saber de tudo?
Pois é,eu nunca acreditei que tivesse.Mas eu aprendi que nunca se podiam tirar aqueles espinhos dos seus dedos.

Quem te roubou,te guardou em uma caixa aveludada só pro luxo de te ter aprisionado.Como os pássaros,você nunca foi mais do que um apreciador do céu.Nem via graça no poder de voar.Então se prendia no chão como se pudesse estar protegido.Você era uma amigo intimo da tristeza.Como se os olhos dela refletissem os seus.Como se as suas mãos estivessem sempre molhadas.E aquele jeito de falar
da morte,fingindo que não se lembrava do teu medo.Eu sei que você não queria morrer sem tentar ser diferente.É que ter orgulho é mais fácil do que ter esperança.Sangra menos.Ainda mais quando você chamava aqueles nomes que lhe foram tirados.Você é mesmo um sobrevivente.

Quem diria...

Justo o rapaz de camisas bem passadas que não seria o melhor exemplo de anjo torto.Justo ele saberia como é ter medo do escuro,como ter os pulsos presos e as lembranças amassadas.
Eu bem que julguei pela cor dos teus olhos.Eu busquei imperfeições nas tuas gotas de chuva,e olha só,foram elas que me fizeram te admirar tanto.Querido,eu poderia te comprar um presente esdrúxulo,e ouvir tua risada cafona só pra ter o prazer de vê-lo feliz.

É Querido,nós crescemos,afinal cheios de espinhos.



(Elisama Oliveira)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

3 pedidos à Mim

- Eu preciso de um coração de vidro.
- Eu preciso de um relógio que pare o tempo.
- Eu preciso  não precisar daquele alguém.


Me peça todos os sonhos que não lhe permitiram enviar ao Sul.Me entregue tuas mãos sujas do medo,para
que eu possa guardá-las nos meus travesseiros.Eu limparia teus olhos todas as noites se eu pudesse te segurar.Grita quando o silêncio te sufocar.Tudo em canto criança,tudo em poesia.Então eu te abraçarei quando ninguém estiver olhando,e eu te sussurrarem coisas indefinidas.Tire as asas de baixo da cama.Ponha-as nas costas,e voe.Ah,não tenha receio.Seja,enfim,aquilo que te repreendem por equívocos arrogantes.Tampe os ouvidos,descruze os braços e feche os olhos enquanto teus pés estiverem fora do chão.
E quando estiver lá em cima,acorde.
"- Eu tenho medo de seguir..."

                                  Minha argumentação à minha criança oculta
Nunca me perguntei o que significava toda aquela história que eu não contava pra ninguém.Não existia,mas estava ali - de repente era a minha história -Contada por fatos incompletos,cheios de constrangimento. E era a mesma sensação de mau estar,de repulsa e desordem.Eu nunca me perguntei o que aquilo significava pra mim. Talves fosse um final que nunca terminei de escrever .Talves eu nem mesmo quisesse um final.Então eu me contentava com o drama de estar amargamente satisfeita com as nuvens que não me formavam coisa alguma.Com aquele café que eu sempre deixava pela metade do tempo.Com aquele jeans
que eu gostava de vestir às terças-feiras.Onde eu fui parar meu Deus? No número 32 da Rua Progresso.Que ironicamente,não progrediam nem os átrios.Eu queria era mesmo poder pedir à mim mesmo 3 pedidos.E fugir depois que eles estivessem realizados.
Por enquanto só me peço perdão.Por ter sido tão egoísta com minhas próprias estradas de tijolhos amarelos.Porém,não me peço pasciencia.
Que dela já tenha abusado à tempos.E me exposto ao perigo de não me encontrar na estação Às 17Hrs de uma Terça-Feira.Onde eu estaria ocupada demais sendo hipócrita,e uma boa pessoa.


(Elisama Oliveira)

sábado, 26 de novembro de 2011

À vida da gente.

                                     "Quem tem medo de sofrer não merece o melhor da vida"                                                                                                                                   
                                                                                             

Faz-me vivo Senhora Chuva.Deita em mim,como as lágrimas de uma viúva.E não me derretas de lembranças,não aflijas com textos antigos,nem me queime com teu hálito de destino.Tu tens sido meu remédio.É uma pena não poder marcar a hora certa de tomar.É sempre tão involuntária.

Então peça desculpas à sua vida se não cabe a ti todos os teus desejos.Finja ao menos que se importa com as mentiras apresentadas de bandeja na televisão.Não se revolte contra o mundo,não se junte aos moribundos.Sonhe de novo,e se acordar não volta atras,espere o próximo.Tem algo faltando dentro de mim.Todos os pedaços em um só,que me envenenam a língua.Que não me apertam contra a parede.À vida da gente um abraço,um beijo,um chá de ervas verdes.À vida da gente meu eterno agradecimento e também minha repulsa.À vida da gente meu nobre respeito,e minha eterna crítica.Tal que é um livro manchado de sangue,de perdas,de escuro,de garrafas vazias,de nostalgia,de melancolia e monotonia.À vida da gente,meu coração.


(Elisama Oliveira)

terça-feira, 22 de novembro de 2011


(...)

Tem sido um fardo essa falta de gosto na coisas que antes me agradavam.
Eu tenho andado de costas aos braços que me guiavam de boa vontade.Sinto muito.
Sim eu sinto,e sinto mais ainda de não poder se agradecida pelas mãos que me estendem.
Ora,não são o bastante.E não é egoísmo.É só essa mania do ser humano de não estar
satisfeito com a solidão e viver batendo em sua porta.Eu sou só,e não por querer,por achar melhor.
Mas,o que é melhor quando se quer companhia?
- Vinho,e cigarros.
Todo o amor para tirar o atraso,o desgosto,o gosto amargo,o vestido manchado,o romance inacabado.
Eu queria ser de vidro,e que as pessoas tivessem cuidado ao me pegar no colo."Cuidado,ela vai se quebrar."
Eu me quebrei.Perdi o trem,minhas prisilhas e o livro que você me deu naquele outono.Estou inteira de novo.
Ou só os cacos,mas inteira de alguma forma da qual eu ainda vou descobrir o nome.
Está cansativo,está me desgastando.E eu vivo tendo recaídas.Não é fraqueza,é...perdão,
também não sei dizer o nome disso.Mas é,e está lá.Agora vamos cantar,dançar,esquecer.
- Amigo,mais vinho,eu não quero mais amor.


                                                                           (Elisama Oliveira)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Imaculada


Tantos laços na memória,e eu me esquecendo de por um no cabelo."Vamos fechar os olhos..."
Ela tem essa graça de estar sempre pronta querendo abraçar o mundo,quem diria!
Não à culpe.Esconder os medos na gaveta deixa-os longe de confusão.E confusão,ora veja,
é teu peito cheio,carregado,mas transbordando de amor.Talves alguém lhe pediria que se calasse,
que lhe fizesse respeito,e se colocasse sobre a mesa em uma pose de trator.Mas perdoe-os,
são todos meninos escondidos.E teus modos são tão soltos minha fada,que não os perdoo por querer teu silencio.

- Vamos Ba,solte as borboletas!

Não te iludas com o olhar da noite cara menina,ela é toda venenosa,cheia de espinhos bonitos e atraentes.
Me empeça de pular,me mergulhe nesse abraço longo que tu tens.Abre os braços para caber mais! Que tem muita dor aqui dentro,
tem muito choro que não chóro,muito amor que não distribuo,muita palavra engasgada.Abre os braços para que eu caiba ai dentro.
Sereno cinza,e ela vai lá carregando uma cesta de corações curados.Se fosse verão,ela certamente cantaria.
E eu me pego olhando teus passos,um,dois,três,quatro,cinco...De repente ela não está mais no chão.

Imaculada.Doce remédio esse sorriso.Eu muito buscaria para que ela não se deixasse corromper,não se permitisse esfriar.
Não se deixa esmurecer,não perca a cor,a flor,não perca o sol,não muda a música,se deixa à deriva,e me espere na esquina.
Que eu fui buscar meu suéter,fui ter certeza de que tranquei a porta,fui lavar o rosto e deixar meu menino trancado no meu quarto.
Ele me assusta.Eu engoliria tua inocência se me fizesse dever,e dela eu seria um fruto de alegria.Fada,me me permita 3 desejos:
- quero ter paz ao ver o sol.
- quero ter medo do escuro
- quero teus passos,sempre soltos,mais seguros.
Durma então criança,e se envolva num sonho longo.Segure as mãos do teu amado,seja eterna bailarina,seja quente e fale alto.
O mundo anda devasto,e as sombras tem me feito submergir.Me segura,me protege.Eu me encanto de novo em teu mundo,
e suas borboletas me devoram de prazer.Sou teu anjo maculado,teu veneno desvairado,sou tua música ruim,teu vestido desbotado.
Ei Fada,não vai ainda,me leva esta carta.Não te esqueces de meu mundo,e quando voar me leve!


Ei,olha só pro horizonte,aquilo são flores?


(Elisama Oliveira)

domingo, 20 de novembro de 2011

A Morte de Ana

Ana nunca foi boa com as palavras,mesmo assim nunca às abandonou.Era trágico ver como seu rosto se reprimia de temor quando se falava de futuro.Onde estaria seu futuro?Perdido nos braços da morte.
Morte que alias não é só física.Ana morreu tentando se salvar de dentro para fora.Eu nunca me deixo esquecer que ela saía todas as noites de sábado em busca de um vinho caro para se desfazer de seus conceitos sobre comportamento.As flores lhe enfeitavam o cabelo,e o perfume de um alvorecer lhe fazia gosto todas as manhãs.Eu podia toca-la,vê-la,leva-la para longe.Fui covarde,e à vi partir com o coração dentro de uma mala amarela.Pobre menina amarga.Desculpe amiga minha.Eu não tive coragem o suficiente para dizer a ele que eu o achava bonito.Se você estivesse aqui certamente me surraria.Mas é que depois que você se foi as coisas ficaram tão cinzas,mais ainda do que eu sempre fui.Então quando me falam de morte eu sempre me imagino no escuro procurando a tua mão.Ele não nos deixou tanta escolha,e ainda hoje quando eu te vejo sorrir posso ver a morte em seu olhar.

Nós subíamos em árvores para esperar a chuva cair.Era tão gostoso saber que estaríamos encharcadas de alegria depois.Era tudo tão doce,e eu me permitir macular por uma malicia enganadora.Me perdoe.Ah sim,me perdoe! Por não ter te esperado na estação aquele dia,é que a chuva desceu negra para mim e o sol pareceu me rejeitar.Eu fui feliz até quando não devia estar de pé,e olha só eu me escondendo de novo.

Ana sabia de tudo,via tudo,estava em tudo.Trazia nos bolsos todas as notas da verdade,e um frasco de veneno na carteira.Ela nunca soube ser sutil,nunca tentou ser melhor do aquela garota que lhe sorria no espelho.

Ana tinha nas mãos todas a borboletas,e na língua todas as vontades.


(Elisama Oliveira)

Um Príncipe Indomável


Ele tinha nome de príncipe,pose de rei,o coração de um urso.Ele podia tocar as estrelas com suas mãos,
podia ter o sol de frente à face,tudo assim,quando a tinha nos braços.Um dia,ela se foi.E ele enterrou sua coroa no peito.Algo me diz que ele sempre foi seguro.
Mas tinha medo,e eu via tal fato em teus olhos até quando ele sorria.Eu podia sentir sua respiração fraca enquanto ele respondia-me
que estava tudo bem.Era o prícipe de si mesmo,dono de seus próprios medos,senhor de suas canções que ninguém ouvia.
Era mesmo pequeno,e não no corpo,não na fé,não no bolso nem no amor.Era pequeno no desatino de se imaginar sozinho.

Ah Pequeno Príncipe,eu te abraçaria se tu me pedisse.Mas tu sempre se escondeu por traz de tua capa vermelha.E teus olhos negros
sempre te entregavam.Nunca me enganaram,e nem consiguiriam.Porque eu conhecia aquele cheiro de tristeza de longe.Eu a via escorregando
por suas mãos enquanto você afagava meu cabelo.Triste mesmo era saber que essa tristeza era o seu ponto forte,era o que te fazia tão
indestrutível,tão sexy.Oh perdoe-me o atrevimento,você sabe que eu nunca soube ser sutíl.Eu sentiria sua falta daqui a cinco minutos,
se não soubesse que você estaria tão perto.
Você nunca soube me dizer o que te deixava tão preocupado.Devo dizer preocupado,ou "transtornado"? Sempre fugindo.
Nunca me disse do que tinha medo,e eu sempre agia como se não soubesse.

"Me dê a mão."

Deixa-me te mostrar o mundo.Que depois da chuva ainda há céu.Vem comigo cantar aquele sucesso dos anos 80 que ninguém conhece.
Amigo,você vivia me surpreendendo.Vivia me dizendo onde haviam principios e virtudes,vivia me pedindo para tomar cuidado.
Meu Pequeno Principe de olhos negros.Você se tornou um rei das suas ruas vazias.Quem te domar será certamente feliz.E quem te deixar sozinho,
perdoe-me amigo,não sabe o que é ter no colo um amor inestimável.

(Elisama Oliveira)

sábado, 19 de novembro de 2011

Adriano C. | Não é ler. É sentir.

Adriano C. | Não é ler. É sentir.

Costume Oculto

Sinto como se o espelho não me refletisse por inteiro,só meus cacos.Todos juntados em um esforço de auto-construção.Meu quarto se tornou um abrigo de papéis amassados,de ideias furados,de planos frustados,de homens crucificados por não serem bons amigos,de muitos nós cheios de sangue.Eu sinto falta de sentir o cheiro da grama no parque da frente,de ter as mãos presas por um atentado de olhos azuis.Reflexo,de todas as noites em que eu me vi presa à uma janela fechada,só para mim,aberta ao público.Me fechei,e me sujeitei ao medo de uma forma tão suja,tão imunda.Será que eu devo cortar meu cabelo? Já nem lhe agrada aquele laço.Me faria feliz aquele aperto de mão vitorioso.É grande a malicia que me vem aos olhos toda vez que aquele rapaz passa,mas ele nem me atrai,vejam só.Não me julgue.Oras,não fui eu mesma que me julguei? Perfeita demais para errar,sábia demais para cair,amada demais,crente demais.Crente nos joelhos dobrados em um pedido de perdão.Era um circo,eu era o público,e aplaudi cada segundo do espetáculo que tinha como objetivo me distrair enquanto meus pés eram amarrados ao chão.Eu deveria ter me posto sobre as coisas inúteis de que me falavam as más línguas.Não há pedra sobre pedra nesse estado de sólido só.Nessa rotina de não se deixar pensar,e não se permitir ter pesadelos.Mas sem reclamações é claro.É só o meu velho costume de me esquecer de novo.Esse,e um outro costume,que ninguém conhece,que ninguém nunca viu,e eu guardo à 5 chaves que ainda me restaram depois que o mar,te guardou para sempre com ele meu velho amigo.


(Elisama Oliveira)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Leve,crua e só.

Ela deveria se sentar ás quatro horas de uma sexta feira,à beira de um barranco,cheia de esperança e um discurso melancólico a fazer.Só que depois de tanto vento,nem mesmo as velas conseguem te levar à algum lugar.Elas se rasgam,e eu me vi à deriva após tanta chuva.Não me negue se eu te esquecer debaixo da cama,é o desespero.Mas não há gritos,nem choro,não há vozes,nem atos,só desespero.E um desespero "bom".Tal que me derruba na grama e não me deixa correr para longe de tudo e todos.E olha só,ele não apareceu para ouvir.Pobre covarde,ou devo dizer,pobre amante.
"Ah,me deixa te segurar mais uma vez".

Sou Leve demais.E você sempre foi tão pesado,de gestos,palavras,sentidos,e cores.Suas cores Sr.Inverno,todas cinzas,todas vermelhas,cheias de folhas,pobres de vida,unidas em um poema esquecido,cheio de pó e saudade.Ela deveria ter ido embora,naquele dia.Mas não se conteve de amargura,não se deixou se arrogante,não lhe permitiu ter orgulho.Tola,criança ingênua.
"Me deixa te envolver nos meus braços".

Ela deveria ter feito tantos pedidos,e só pediu perdão.Podia ter feito tantas escolhas,e escolheu ser prisioneira.Podia ter tido tantos sonhos,e olha só como era doce o pesadelo de o ter consigo.Jogou tudo fora,amassou todas as cartas (tais que nunca vieram),se enrolou em tantas camadas,cobertas por ignorancia,recheadas de arrogância.Era uma bailarina fugindo da música,tropeçando sobre si.Esquecendo seus princípios,por alguém que não gostava de dançar.É assim esse inverno,uma crônica devastada,um amigo desolado,uma laço desatado.Sou crua demais.
"Eu vou fechar os olhos,e contar até 3..."
 

                       Elisama Oliveira

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Novembro

Não me lembro de qual foi a ultima vez que tomei um banho de chuva.Ou me lembro? Não importa,eu chovia muito por dentro naquele dia,e claro por fora,mas aquela água cristalizada que me escorriam eram facilmente camufladas pela chuva que me cobria feito um véu.Há dias em que palhaços e xícaras ficam  sutilmente assustadores,me levando à uma época que eu não apago dos ombros.Olha só,cigarros são estupidamente relacionados ao desespero,em minha modesta opinião.Ou,nem tão modesta assim.Estou desesperada.Mas porque não bebo,não fumo,não vicio-me em um jogo,não me entrego ao primeiro beija-flor que me cantar? Porque sorrio,e não me largo por um instante na estrada ? É fácil demais decorar a estante com fotos,ligar o rádio e deixa-lo entoar.É fácil demais se deixar sofrer.Eu nunca fui fácil.Então me surre se eu não levantar os olhos quando houverem aplausos vindos à mim.Perdoe-me se eu não choro ao ler uma carta,não me entrego de coração ao seus poemas.Perdoe-me Drummond,mas você tem sido um veneno para mim ultimamente.Tanto drama não me faz justiça,afinal,estou inteira.Inerte,mas inteira.Você sempre disse que amava a chuva,mas nunca deixou a janela aberta para aprecia-la.Pobre ator,cheio de dramas e novelas de cavalaria.Canta sabiá! Só quando a chuva passar.Quando o tempo passar.Quando tudo passar.Então canta,e me visita pássaro de amor.Não tenho pressa,é novembro,vai chover.


(Elisama Oliveira)

domingo, 13 de novembro de 2011

Incógnito

Não peça permissão,não me adorne de promessas.Voa criança,para bem longe.Não te assombres com o mundo,ele é teu leito agora.Seu lar tem estado devastado ultimamente,mas não te pressa,teu passarinho ainda canta.Cresce criança,e não tenha medo do escuro.Ele já foi teu berço.Voa criança,e me escreve,sempre que o dia nascer.

(Elisama Oliveira)

Veneno

Que te houve menino trator ? Eu me encontro na tua rua sempre que a tarde me vem sorrir.Não te espero porque tenho sempre a pressa de me encontrar primeiro.Donde saem as flores nascem laços também.Mas tu não sabes mais amarrar meu cabelo,nem mesmo o bagunça para fazer graça.Tu se perde em linhas proibidas de um mundo que nunca vai ser seu.Assim como eu me privo de teu espírito venenoso nas canções que eu tanto entoava,hoje me entendo com um livro de Lispector,ela sempre sabe me abraçar quando estou cansada dessas vozes piedosas de quem me vem cobrar respeito.Grandes punhais de carne e sangue!

Me agradaria se tu me perdesse de vista por tempo suficiente.Tal que me permitisse viver,não sobreviver como eu tenho feito.Sabe que com o tempo passa? Não tem mais leite para derramar,consequentemente nem choro.
Eu sou forte menino,olha só.Quem diria que eu te acenaria,e te abraçaria sem receio? Pois bem,certo estava quem o disse.Não me vejo em teu olhar,nem por respeito,nem por clemencia.

Mas é amor essa falta de vontade,é amor essa criança perdida ai dentro.Melhor dizendo,amor é grande,não se acaba,amor é ferro,tem sua força,equilibrio de mover um céu com suas poucas vogais.Admito,não é amor menino,é saudade.Amor é cura.E saudade é veneno.


(Elisama Oliveira)

sábado, 12 de novembro de 2011

Velha criança.

Eu penso que não me falta um único sentido no sentido de estar,viver e ser.Talves eu seja arrogante ao imaginar que não me falta nada,nem ninguém.E me veja então só,ao nada,seguindo em frente.Mas,onde é "em frente"?Não me pergunte onde foi que eu acordei domingo passado,pois eu não reconhecia nem mesmo a mim.Sem rumo,muito ousado dizer.Sem perspectiva,muito dramático ouvir.Sou um infinito perdido.

Mas minha velha criança não me silencia os ouvidos nem por um instante.Sei que às vezes a faço chorar,a faço sentir frio,e não a abraço antes de dormir.É que eu tenho tido muito medo do escuro.Pobre criança,não sabe nem ao menos o que faz ao meu lado.Será que é seguro se segurar em mim?

Perdoa-me anjo pequeno,não te esqueço,nem te ignoro.É que às vezes é mais fácil seguir sozinho,caminhando pelas folhas que de sorte me caem no cabelo.Poe a face na janela e não me perde,me guia sempre minha doce voz oculta.Se eu tivesse te ouvido,não teria que fechar a porta atras de todos,não me veria cair desesperada em tão plena calmaria.Eu nem mesmo te agradeço por estar aqui.Olha só,eu  esquecendo de novo de me ouvir.

-Até logo criança,não demoro a voltar.Vou buscar um pouco de paz,onde não haja sol que possa levar o prefácio de viver em que me encontro toda noite.

"Não se pode esquecer certos velhos costumes". Não me deixe te esquecer velha criança,já que tu sou eu,perdida dentro de mim.

(Elisama Oliveira)