sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O mundo acaba na Estrada de Flores.

Me disseram,certo dia,que o mundo realmente acabaria.Pois bem,que acabe.Porém,como ultimo desejo,que o mundo acabe em flores.E que sejam elas todas azuis,assim como o céu deveria ser.Sim,o céu deveria ser azul.Mas o sangram todos os dias,e nem as flores tem o mesmo perfume.Nós estamos nos perdendo em sons alegres de desespero no despertar da tristeza.
- Mais alto,mais alto...
Até que os pássaros nos salvem de um perigo que nem nós mesmo conhecemos.Então,fechei os olhos...
Eu vi,que quando eu caminhava ficavam umas pegadas no chão.Mas,o surpreendente era que ao dar outro passo,nasciam flores no passo anterior.E conforme eu ia me afastando elas iam murchando,mas não todas,só as que me doíam quando eu pisava.Os passos mais tristes,murchavam.E nos passos que me alegravam,cresciam flores mais bonitas ainda.Depois vi que por onde eu passava eu deixava aquele rastro.Pena que só se viam flores murchas.
- O que houve com você ?
- Eu não sei,só houve.

Somos mesmo todos cegos,cheios de dor.Então quando me dizem que o mundo acabará,eu fecho os olhos e oro.É bobagem.Talvez por não acreditar nisso eu tenho gostado um pouco menos da luz.Eu queria mesmo que o mundo acabasse,pra que parassem de me perguntar se eu estou satisfeita com a cor da parede.Se eu gosto daquele cantor que está morrendo,se eu me encanto por balé e música clássica.
- Com sua licença,Senhores.Tenho que me retirar - e dou as costas,enquanto meus ombros começam a pesar.
A verdade é que o mundo acaba nessa minha Estrada de Flores.Eu só vejo beleza nelas.Eu não ouço uma única canção que me faça sentir satisfação.São todos monótonas.Creio,que serei sempre o avesso.Não por rebeldia,mas por sagacidade.Pela sede se conhecer um outro conto.É aí que o mundo acaba,quando eu deixo de caminhar,quando me deito e espero a noite consumir meu anseio.Então torno a calçar os sapatos,e olha só,o mundo recomeçando.Em flores.


                                                                                                         Elisama Oliveira

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O homem cinza

Eu não me lembro de ter gostado tanto de sótãos como eu gosto.E de livros velhos,e canções antigas.E de chuva no domingo,e de chá no fim da tarde.Eu não me lembro de gostar de velhas histórias sobre navios assombrados.Pois bem,não me recordo.Alias,não me lembro de nada.É como se tudo fosse novo aos meus olhos e ouvidos.Como se eu tivesse nascido ontem.E pensando bem,eu nasci.Das cinzas de um pássaro de fogo.Reivindicado pela astúcia do vento,pela vontade de ser reconstruído.Eu estou aqui de novo.
Mas,onde é aqui ?

Aqui -depois descobri- é o lugar onde eu havia me prometido nunca mais desviar os pés.Onde a tempestade começou,onde o mundo se acabou,onde eu me perdi.É,eu tenho essa mania de me perder de mim.De ir,e depois esquecer onde eu me deixei.Creio que,depois de tantos trovões a nossa mente fica abalada.Como se qualquer ruído significasse o fim da vida.Vida,que aproposito,eu não tenho visitado.Isso talvez explique essas manias.Nunca gostei também dessas coisas de despedidas.Onde as pessoas levam um pedaço da gente,e não ligam pro tamanho do abismo que vai se encontrar ali pra todo o sempre."Sempre",que aliás,não acaba em relação aos abismos,eles sim,duram para sempre.Tenaz,e impreciso.Essa é a definição de despedida.
Tal,que de tão ímpia,não merecia ser definida.

Já chega.São quase 16 horas,eu preciso tomar café e ir pegar aquele trem.Eu também me esqueci onde é que ele vai me levar.Mas,tomara que não me leve a lugar algum.Afinal,já sou cinza demais pra estar onde quer que deva.Acho que vou me sentar aqui,fumar todos os cigarros que puder.Talvez eu ouça uma música,e escreva uma estrofe.Talvez eu me deite sobre o carpete e beba até não saber mais o meu nome.
A vida ficou tão triste querida,tudo é cinza aqui.Eu sou.E sou também esse nó,que me tornei por ser um nós que você nunca quis.Nós não pode ser singular.Singular,é nó.E isso só combina com as cordas que alguém amarra no pescoço antes de tentar contra a própria existência.Alias,esse pensamento me faz bem aos olhos...

Não querida,só se tira a vida daquilo que ainda vive.E eu,ora veja,não sou vivo à tempos.


(Elisama Oliveira)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

É segunda-feira ,amor.

"Querido,
        vamos nos deitar sobre o mundo enquanto ele acaba."




Saiba então que às segundas-feiras minha fotos nunca vão ser boas o suficiente.Há sempre algo a fazer.
Um papel pra assinar,um telefonema que deve ser feito.É sempre uma tremenda correria ao som de um samba sem letra.E as estátuas mágicas no centro da cidade.Ninguém pára pra observá-las.Olha só criança,está chovendo.Mas não há tempo que nos permita arrematar algumas gotas na língua.O tempo não pára,nem mesmo para controlar nossa vida.O tempo também anda ocupado demais.Todos ocupados demais,presos demais,invisíveis demais.Onibus cheios,carros apressados.E nenhuma presença.Pessoas indo e vindo,assim como elas têm feito na minha vida.Porém só vão,não voltam.E até me acostumei à não tê-las por perto.


Elisama Oliveira

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

-

Faz de conta que ainda é inverno.Que há motivo pra não sair de casa.Faz de conta que eu te espero,
que de fato ainda virá.Um moço pra salvar-me do frio,do cansaço,do vazio,do abraço.Um moço pra ser meu,enfim.


                                                                    Elisama Oliveira

Nota Rápida à Inocência


Dentre todas as histórias que me contavam quando eu era criança,sempre me concentrava nas de sereias.
Seres bonitos,meio peixe,meio menina,e encantadoramente adoravéis aos olhos do Homem.Eu me imaginava
olhando por debaixo dos barcos,procurando uma sereia e esperando que ela acenasse para mim.Que por desobediencia às suas leis,ela me pegasse pela mão e me levasse pra conhecer o mar,seu mundo secreto.E quando eu voltasse pra casa ninguém acreditaria,e iria chorar trancada em meu quarto.Envelheceria com a lembrança da cauda cintilante,indo para sempre.
Ao fundo,
          mais fundo,
              mais fundo
                 mais fundo
                       e sumir...


Porém,com a juventude vem o entedimente,e as maldades do mundo em si.Foi então que descobri,sereias matam.E cantam pra caçar,e riem pra enganar.Sereias corrompem,te cegam,te enlaçam.De repente,eu fico agradecida,por elas não existirem.Mas,existem medos,existem sombras,fotos rasgadas,e o fundo perdido do oceano.E a inexistência desse ser,só o torna mais perigoso.Assim como o medo que eu tenho da solidão do quarto escuro.Então se ela vier,que me leva a tristeza para sempre,ao fundo.É eu vou envelhecer sem acreditar nas sereias,e sem acreditar em nada.Na verdade,quando não se acredita em nada nem vale a pena estar vivo.


                                                   Elisama Oliveira

domingo, 11 de dezembro de 2011

Fix You

                          "...could it be worse? "


Contudo,o que ouvi dentre todas as palavras de desanimo não houve uma única que me pudesse desfalecer a tola esperança de uma utopia demasiadamente entediante de minha vida.Depois de tantas conversas amassadas e tapetes rasgados,eu ainda estou aqui.Não sabe-se bem o que estou fazendo,nem mesmo do que eu estou falando,eu não sei onde é "aqui".Só me sinto assim.Insensível,sem me ouvir ou ver à dias.Eu sinto minha falta.Os anos passaram rápido,parece que foi ontem...


                     "Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso
                      Quando você recebe o que quer, mas não o que precisa
                      Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir
                      Preso em marcha -ré"

De repente eu me lembro do escuro,que tem sido abrigo de um escuro ainda mais profundo que eu tenho guardado com umas mãos cansadas.Cansadas de tanto me consertarem em frente ao espelho.Houve-me criança,faz em mim teu esconderijo,deixa em mim tuas promessas,teu planos falhos,teus cantos vagos.Faz criança,esses anos se esquecerem da minha voz,esses dias se apressarem na minha presença.Faz essa dor ser flor pra florescer só no inverno,e esse caminho me levar ao paraíso,sem pecados ou juízo.Eu sou criança,tua luz do quarto ao lado,teu espelho quebrado.E foi mesmo ontem,que eu te guardei de mim.Pois não suportei te expor ao desiquilíbrio dessa mente involuntária.Nessa mente onde até as flores tem veneno.


                                                           Elisama Oliveira

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Em Gotas Limpas

Chuva é como redenção.Como se os céus quisessem limpar a vida da gente.E aquela que vem no fim da tarde,depois de um calor impiedoso,ela parece levantar do asfalto mais do que fumaça.Parecem almas,sonhos,planos,pesadelos,cargas de tristeza alheia,as vezes até a minha.E o que seria a minha tristeza se não um vapor do que a falta faz.Falta de amor,de um lírio na varanda,de um cabelo bagunçado,de um peito apertado.Falta de si dentro de si à se abraçar.
"Não espere,porque eu não volto logo..."

Eram tantas cores,eram tantos pontos cardiais espalhados nos olhos do velhos amigos.Hoje o dia nasceu cinza,e já faz tempo que ele não me deixa ver outra cor.E os velhos amigos são vagas lembranças de um "para sempre" empoeirado.Ai eu canto debaixo da chuva,e parece que a redenção me enviará aos céus e me curará os ferimentos,esquecerá meus pecados e me fará dormir como se eu nunca tivesse existido.Ah,eu nunca me canso de ser livre.Mas sabe que a liberdade me entristece? Ela me prende os braços alias,me cobre os olhos,me solta os cabelos,e não me liberta de mim que é minha única prisão.A liberdade está aí,toda liberta.Cadê ela que não me deixa estar só.Então chove todas as manhãs,e as flores nunca crescem como eu quero,por isso nunca às ponho no cabelo.

-Querido,quando vier segure a minha mão pra atravessar a rua,bagunça o meu cabelo pra que ele não sinta falta das flores.Querido,quando vier faz-me esquecer como é ser só.Faz me admitir que eu não sei me acostumar com isso.E então,quando a noite chegar me abraça até que ela se vá...


Que afinal,a chuva te traga em gotas limpas para mim.


(Elisama Oliveira)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mais um dia

                       "Onde meu amor pode estar ?
                            O Senhor levou-o de mim.
         Ela se foi para o paraíso,então eu tenho de ser bom
         Assim poderei ver meu amor quando deixar esse mundo."


Foi de longe que eu vi o vestido azul,manchado por um torpor de angústia e desespero.Mas acalma-se,eram só lembranças.Então acordei de novo."Ora,se não é mais um dia..."
- Eu gostaria muito de poder colocar umas flores no meu cabelo de manhã.De poder me pintar de cinza,e encontrar o amor em uma xícara de café.Outra vez são imaginações sem sentido.Enfim,minhas.
Eu fico me perguntando onde foi mesmo que o meu relógio se perdeu.Onde ele assinou minha captura.Algo me diz,que foi aí que eu errei.Tente então,por cinco minutos soltos,se perder de si mesmo e ficar no escuro.Pra ver se o pensamento esfria,se o mundo acaba,se o coração pára.Ei,outra imaginação vã.É justo ai onde eu me perco,na minha própria vontade de viver.Dentro do meu subconsciente,que não está tão consciente assim.Onde eu me conto estórias de uma fada que não podia voar por ter tido as asas cortadas por um pássaro negro.Porém,ela não era boa o suficiente para ser uma fada.E ele,ora vejam,nunca havia conhecido os céus.É tudo tão meu lá dentro.O inconveniente,é tudo deixar de me pertencer ao fim da tarde.
- Eu gostaria muito de poder colocar umas flores no cabelo pela manhã.


(Elisama Oliveira)


sábado, 3 de dezembro de 2011

À 7 palmos

Havia um medo e uma timidez.
Outra criança adulterada pelos anos que a pintura escondia.(M.Z)



As vezes me pego às 18:15 de uma quinta feira,esperando que diante de mim todos os medos me percam.Quanto mais se tenta deixar ir,mais pra perto se é puxado.E você de novo está na porta de casa.
Por qualquer circunstancia,eu ainda tento desdar os nós feitos no abraço.Desfazer os laços dados no cabelo,e as vidas pintadas na memória.São todos fantasmas na estante.Todos,brinquedos que não me fazem graça.E toda quinta-feira parece ser o dia do reencontro.Todos os dias parecem ser aquele dia,todas a músicas parecem dizer as mesmas coisas,e os ombros sempre parecem ter o mesmo tamanho.Um tamanho insuficiente.Meus medos não me perdem,não me esquecem,só me acompanham.Quietos,comportados,cheios de gentilezas e sorriso,mas nunca (nem por mínimos momentos) se despendem da minha face.Eu me encontro à sete palmos,coberta de um sentido ainda não encontrado pra viver.Eu sou o pedaço que falta na sociedade machucada.Serei então a eterna dança da esperança maculada,o infinito desejo de ser forte,a incrédula vontade de ser só,o tamanho do pedido,o nó no abraço,o laço no cabelo.Serei então sempre minha,e da minha caneta.Sempre a moça do banco azul na quinta-feira.Enterrada com as mãos cruzadas,morta por um tiro no peito e pelo medo.Pronta pra que alguém diga: "Hora de acordar."


(Elisama Oliveira)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Quem diria,enfim disse.

Querido ouça,


Há quem ainda julgue pela cor dos olhos.Há quem busque imperfeições nas gotas de chuva.
Há quem peça silencio em meio ao desespero de estar só.Então lá estava você,com as ruas nas mãos
e o mundo nos ombros.Toda vez que lhe faltavam umas palavras eu às estendia.Umas aceitas,outras sutilmente recusadas.Como eu gostaria de te carregar no colo às vezes.Teu orgulho te envelhece tanto.Te rouba os principios.Mas eu sempre sorria por dentro quando te assistia sendo arrogante.Era tão maliciosamente gracioso.Eu gostava,assim como gostava de um pouco de café no fim da tarde.
Tudo em você parece chuva.Teu abraço úmido,teu sorriso melancólico,tudo em você sempre choveu.E eu sempre assistindo da minha janela.Ah querido,me desculpe as tantas inconveniencias.Eu tenho tentado me manter de pé depois de tantos cacos.Você entende,ah sim,você entende Querido.Lembra quando falávamos sobre a vida e você sempre achava saber de tudo?
Pois é,eu nunca acreditei que tivesse.Mas eu aprendi que nunca se podiam tirar aqueles espinhos dos seus dedos.

Quem te roubou,te guardou em uma caixa aveludada só pro luxo de te ter aprisionado.Como os pássaros,você nunca foi mais do que um apreciador do céu.Nem via graça no poder de voar.Então se prendia no chão como se pudesse estar protegido.Você era uma amigo intimo da tristeza.Como se os olhos dela refletissem os seus.Como se as suas mãos estivessem sempre molhadas.E aquele jeito de falar
da morte,fingindo que não se lembrava do teu medo.Eu sei que você não queria morrer sem tentar ser diferente.É que ter orgulho é mais fácil do que ter esperança.Sangra menos.Ainda mais quando você chamava aqueles nomes que lhe foram tirados.Você é mesmo um sobrevivente.

Quem diria...

Justo o rapaz de camisas bem passadas que não seria o melhor exemplo de anjo torto.Justo ele saberia como é ter medo do escuro,como ter os pulsos presos e as lembranças amassadas.
Eu bem que julguei pela cor dos teus olhos.Eu busquei imperfeições nas tuas gotas de chuva,e olha só,foram elas que me fizeram te admirar tanto.Querido,eu poderia te comprar um presente esdrúxulo,e ouvir tua risada cafona só pra ter o prazer de vê-lo feliz.

É Querido,nós crescemos,afinal cheios de espinhos.



(Elisama Oliveira)