quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São tantos,que me transbordo.

Eu sempre me surpreendo quando ela se senta para conversar comigo.Nos dias em que o céu mostra mais do que figuras em nuvens sujas de poeira.Onde a vida,tem cheiro de perfume novo...
Ali por um instante viajei no retórico de uma vida que não passa.Ela indagou:

- Do que você se arrepende ?

Parei por um instante.Não havia resposta.Havia,mas não cabiam nas palavras.Era o gosto da perplexidade pendurado na minha língua como um veneno."Do que você se arrepende?" Ficou tudo cinza,e um calafrio me percorreu todo o corpo como um reflexo do medo." Do que você se arrepende?"Eu,de súbito,mergulhei num inconsciente à deriva,e quando respondi,não foi à ela e sim,à mim.
- Não sei.Talvez,de ter perdido à hora.De ter jogado minhas bonecas fora.Também de não ter passado mais tempo com meu cachorro antes dele morrer.Me arrependo de não ter feito as malas antes.Talvez eu não tivesse esquecido tantas coisas.Me arrependo do que disse,e do que não disse.De não querer ser criança.Alias,que pecado esse meu! De ter corrido quando começou a chover.Eu sei que ia ser melhor ter se molhado.Eu me arrependo de abrir os braços pra um sorriso malicioso.Poxa,são tantas coisas que não me cabem numa só vida.

- Criança,não se lamente.Não foi mesmo tu que disse,que somos todos de vidro? E todos nos quebramos.Certo de que alguém nos junte cada caco.Pois bem,se há arrependimentos,há também boas lições e uma mente moldada pela fé de construir o certo.Somos todos de vidro sim,e decorados pela vontade de seguir.Sempre que forem muitos,não se assuste.Deixe-se,transbordar.

                                 Elisama Oliveira.

Sem propósito,ou sentido.

Dos fatos eu que sou.
Dos pedaços que perdi,
Em cada páginas que escrevi.
E de todas as minhas folhas,o que sobrou?

Um pouco de açúcar pra me adoçar os olhos.
E as velhas fotos de um anjo sem nome.

Minto,às vezes minto.
Não era sem nome.
Era o fardo de ser livre.
O desejo de ser logo moça.

- Pra quê,criança?

Pra não ter medo de escuro,
construir nos olhos um muro.
E se entregar ao infinito,que de fininho
te cobre os ombros do inseguro.

Inseguro é amor que não tem remetente.
É canção que se canta pela metade.
É ter o peito em fogo ardente,
É abraçar o mundo,antes que ele acabe.

                                                                     Elisama Oliveira

domingo, 22 de janeiro de 2012

Desconhecido



Querido,hoje tem chuva.

           Vamos lá fora pra nos lavar do medo,e pra sentir o frio de estarmos livres.



Quando eles iam embora eu sentia como se o céu voltasse a ter a mesma cor de sempre.Era,cinza.Diferente das tardes que eles me davam o desprazer da sua presença,onde quase sempre,o céu era vermelho.E não era um vermelho bonito não.Era vermelho de morte.Eles realmente me deixavam à desejar...
Eram meus medos,e culpas,e pensamentos insanos.Sim,eram eles.E fediam,como verdadeiras traças que de tempos em tempos vinham me corroer o sono.Por isso o dia de amanhã é sempre mais bonito que o de hoje.Porque eles se foram.E foram também as verdades maculadas e as rosas que de doces,só o nome.

Hoje me perco em cantos de rádios,em músicas das quais nunca mais vou lembrar o título.Eu me perco em ruas das quais nem conhecia.Ainda não conheço.Mas gosto do desconhecido.Da fé que ele nos proporciona.Gosto de acreditar no que não conheço.Penso,que ter só temos esperança naquilo que ainda não conhecemos,naquilo que ainda não tocamos.Temos fé,naquilo que buscamos e que acreditamos que de alguma forma,isso nos traga um mínimo de salvação.Algo que nos salve de nós mesmo.

Então Querido,eu gosto de acreditar em você.No teu sorriso que eu não conheço.No teu cheiro que eu não conheço.Em você,pra vir me salvar de mim.Pra estender os braços e abrigar esse peito cheio de cravos.
Mas não sou triste.Sou leve,sou minha.Serei nossa.Deixar de ser um nó.Ser nós.

Que eu me livre então,dessa coisa de ser livre pela metade.Essa "coisa" de ter as mãos soltas,e os pensamentos presos.Que eu me livre então,de ser livre pelas mãos.E que,tão suavemente,me prenda o coração.



                                        Elisama Oliveira

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma breve conversa sobre a vida

Eu me sentei num banco pra esperar o trem chegar.Foi quando eles chegaram,e se sentaram ao meu lado.Mas havia outra coisa ali,um frio que eu senti nos olhos daqueles dois.Um frio de quem sente saudade.Quando uma tristeza pequenina,questionou:
- Mamãe,porque as pessoas se vão ? - disse alguém que não deveria ter menos de uns 7 anos.
- Eu não sei querido,é assim que as coisas são. - A mãe respondeu,depois de ter ficado uns bons segundos em silencio.
- Que coisas?
- A vida menino,a vida.
- A vida me entristece então.
- Não diga isso querido,você ainda é jovem.Que sabe tu sobre a vida ?
- E que mais ei de querer saber sobre algo que nem mesmo conhecendo,me parte o coração ?







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A sós com a lua

Estávamos então,à sós com a lua.De mãos dadas com o vento,e o rosto sobre a vida de quem ainda não sabia existir.Somos mesmo tão ridículos.E veja só,se ser ridículo não é o mesmo que ser livre.Livres,enfim.Mas,livres de quê? Perdoe-me,eu já nem vejo beleza na liberdade.Porém somos sim,livres do mundo que de fininho,nos aprisiona em seus feitos e defeitos.Onde todos caminham,e nós estamos correndo.Onde o céu é cinza,e nós os pintamos todos os dias com as cores do velho amor.

Eu sei então que é besteira querer um pouco mais de tempo.Tempo pra quê ? Pra não pular do décimo quinto andar.Pra não deixar a dama esperando na mesa de um bar.Pra esquecer a dor de ser sozinho.Pra ouvir e admirar os passarinhos.Esse é o meu sentido de viver.O meu sentir.Que ninguém vê,e me basta.
Então sim,vejo poesia até no café que esfria.Como o peito que esfria.Como o anjo que se desfaz em sonhos.Como a vida que acaba em flores.

Nós somos esse nó,singular como o quê.Um nó de esperança.

Somos todos de vidro afinal,nos quebrando conforme a música vai se esvaindo.E quando a tarde chega,somos nós todo cacos cheios de sangue.Prontos,pra que alguém nos cole caco à caco num peito nu carregado de cuidado.De novo,estamos inteiros.Afinal,até a tristeza tem seu fim,dado pelos braços abertos de quem observa as nuvens esperando que mais do que um desenho,encontre a vida de quem vai lhe juntar todos os pedaços.


                                                              Elisama Oliveira