segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nossos muros,nossas verdades.






À cada passo que eu dava nas calçadas,me desmanchava.E caíam pedaços de mim,por cada rua a que passava,não para que encontrasse o caminho de volta,afinal eu não queria voltar,mas para que soubesse de onde eu viera e não me esquecesse disso.Me perdi.De propósito,como quem joga a alma no lixa só para ter o prazer de conhecer o fim mais de perto.Eu me escondia nos muros pichados de desconhecidos revolucionários.Creio que a cada janela que eu via se fechando,encontrava um significados menos satírico sobre a minha existência.

Eu estava ali.Não sabia bem onde,mas estava.Uns me viam,outros fingiam que não.E todos nós sobrevivíamos.
Eu podia pintar um muro,ou escrever nele algum princípio de revolução.Mas,não sabia o que revolucionar,só sabia que precisava,e os castelos de concreto estavam lá cheios de mentes amarguradas e corações poluídos prontos para guerrearem comigo.

Porém eu vi,que no meio da selva de prata e dos olhos corruptos eu também encontrava poesia.E encontrei poesia até na sujeira daquela grande metrópole que eu chamava de casa.Um muro - ou sua única parte ainda de pé - me suplicou num grito mudo:

- Revolução,Agora!

Eu senti um calafrio na espinha,como quem sente medo da morte.E deixei molhar todos os fatos enquanto a chuva me cobria naquela quarta-feira.Não corri,não me importei,eu só sorri.Sim,sorri,porque mesmo na minha metrópole de tristeza e mentiras eu vi a fé de quem nem sabia no que acreditar.
Se morrermos,que seja de cansaço.Se desistirmos,que seja de desistir.Se lutarmos,que seja um pelo outro,e se vivermos,que seja para não morrer em vão.Que todos os dias renasçamos,pra revolucionar.Tal revolução sem tamanho,que abale os montes e faça chorar os homens,tal revolução que derreta o ódio e nos construa castelos menos hipócritas.Tal revolução,que revolucione primeiro e verdadeiramente,à nós.


                            Elisama Oliveira

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Imortal

Que saudade!
Ah sim,que saudade daqueles velhos tempos.Dos tempos que nunca foram nossos,dos risos que nunca saíram das nossas bocas.Das tardes que nunca passamos juntos.Nós,simples seres.Seres de almas diferentes.Eu,rica de inocência e juventude,e você de passado e amargura.
Olha,eu sei que não foi culpa tua.E se posso culpar alguém,culpo um sistema inexistente.Mas,se houve culpa,ela não quis embora tão cedo.E ainda está aqui,nos castigando pelos pecados de uma geração passada.Pois bem,segure minha mão esta noite,e finja,só finja,que somos felizes,e que nada a disso vai ser esquecido debaixo daquele tapete velho na porta da sua casa.
As vezes me pergunto,como podemos sentir falta do que nunca tivemos.Se é que é falta.Prefiro acreditar que é arrependimento de não ter tido.Mas é claro que isso não nos cabe discutir.É o tempo,À vida e o vento.Só eles,e um destino sem nome que só Deus conhece.
Bom,afinal é assim que nos conhecemos,sem nos conhecer.Ligadas somente por um sobrenome num documento antigo,e um laço de sangue machucado.Muito maltratado pelo tempo,e atingido pela ignorância de um homem sem caráter.Não sei porque te amo,só sei que amo.E amo sem querer saber porque amo,só amo.Que o meu amor,enfim,te alcance num relance de cura,te abrace todas as noites,te faça uma trança no cabelo,e te envelheça com carinho.Pois bem,agora vou indo.Não sei bem pra onde,mas vou.Se cuida,e cuida de mim.Pois mesmo sem conhecer teus velhos costumes,eu me vejo ali,no cantinho do teu olho com um pequeno cobertor nos ombros e um cheiro de criança.E sim,criança vai ser esse nosso laço,pronto pra amadurecer,e com esse velho sonho de ser imortal.

Elisama Oliveira à Wanda Maria Vaz Alves. "Vó"

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carnaval,pra quem quer.

Por incrível e mais ridículo que seja, de ontem pra hoje, não esta sendo carnaval, não esta sendo gostoso festejar. Estão todos com sentimentos ruins, desacreditados. G.S

Espelho Meu,

                                           "Traz nas asas um novo dia,me ensina a caminhar..."



Mais uma vez,lá vou eu me encontrar comigo mesma num lugar onde não sei chegar.Porém chego,e lá estou eu sorrindo,machucada.Cantando uma música enquanto sangro.Desta vez,me prometi que não iria chorar.Mas,a culpa foi daquele contador de história que me fez saber de um principezinho que não conseguiu voltar pra casa.Eu também não consigo voltar pra casa.Digo,não inteira,só por partes.Pois fica tudo lá fora.Os planos,as verdades,as fitas soltas,o velho amor.E dentro,as malas prontas,o grito seco,a mentira leve de quem sabe se dizer "bem",e o velho amor.E comigo dormem,todas as noites.

Será que foi pecado te deixar esperando aquele dia? Não,pecado mesmo é me deixar ser tão sua quando não se deixa ser meu.Gosto então,de me distrair na voz de um músico enlouquecido com essa coisa de amor.Gosto de pensar que enlouqueço disso também,todos os dias.

Me ver em ti,me faz pensar que talvez a dor seja tão grande que o destino à dividiu em duas vidas.Duas dores.Dois nomes,dois cheiros,duas palavras,dois venenos.Nós.E duas vidas,presas à laço infinito prometido aos anjos que nos fizeram abrigo.Somos fortes,mas só frente.Somos livres,mas só do mundo.Somos grandes,mas só vazio.Arrogantes,tão arrogantes que não nos permitimos macular pela esperança.Porque esperança salva,sim,e mata.Tanto quem espera,quanto quem não tem o que esperar.E já esperamos tanto,que não sabemos mais o que esperar.Ou quem,ou como,quando ou onde.Não há mais.É luz que não se vê no fim de túnel algum.

Espelho meu,me perdoe.Não posso lhe curar todas as feridas.Não posso lhe tirar dos ombros fardo antigo.Afinal,ele é meu também.Espelho meu,me perdoe.Pois não posso cantar pra ti todas as canções que tu mereces ouvir.Não posso lhe fazer companhia todas as noites.Espelho meu,me segure.Quando eu me jogar do décimo quinto andar daquele prédio no Centro.Aqui ficou muito frio,são todos os graus abaixo de zero.E nós continuamos vivendo,daquele velho jeito de sempre.Nos preocupando com nossos anjos,se estão bem,se almoçaram hoje,se ainda voam,e se voltam...

- Talvez,nós devemos simplismente ir embora,deixar tudo aí.-Eu disse,jogando no chão a folha que eu segurava e me inclinando para pegar outra mais bonita.
- Você acha que daria certo? - Ela perguntou,e eu pude até sentir a esperança na ponta da língua.
...
- Não.Mas eu gosto de pensar que daria.


Caminhamos,e toda vez que eu à olhava eu me via.Um Anjo mais velho,me deixando cada vez mais para traz.Esquecendo meus aniversários,perdendo minhas presilhas,prendendo sempre o meu cabelo com um lápis.Daí você me pergunta porque eu falo tanto sobre anjos.É só porque não acredito em demônios com a força que acredito nos anjos.E se posso ser um,nem que seja numa história qualquer,eu sou.Meu desejo final é, que antes que o mundo acabe,você me ligue às quatro em quinze dizendo que está pegando um trem rumo ao desconhecido,feliz e só.Sem medo,sem laços,sem lágrimas.E um pedido,que me faria perder as palavras e soluçar,pois eu sentiria todo o meu corpo se espatifar como um vidro fraco,em mil cacos,que voaram como pequenas borboletas antes de chegarem ao chão.Foram ao teu encontro,pois lá,eu sabia,estava minha salvação.



Fé,e a felicidade hoje é por minha conta...


                                                               Elisama Oliveira.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Anjo de Porcelana

           "Os meus pensamentos só falam minha língua,e eu estou cansada de ser só eu." G.S


São sempre tortos.Sim,os dias.Tais que riem maldosos na nossa direção.Que fizemos nós à essas ruas?
Pois,elas parecem nos rejeitar de forma fria.Pois bem,que esfriem.E lá estávamos nós,n'outra tarde,
nuas de degosto,penduradas de cabeça para baixo no ponto mais alto da vida.A esperança....

Era sempre tão sério,aquele semblante,tão egocêntrico.Que bela máscara!
Eu mesma não a manteria tão inteira.Que houve anjo? Foi na alma? Penso que tenha sido na alma.
Pois ousam dizer que são os olhos a janela da alma.E as suas,estão tão sujas.Num dia desses cheguei
a ver uma menina,(uma criança meu Deus!),era só uma criança,à me observar por dentre as cortinas,e veja só,suas mãos sangravam.Mas eu sabia (não sei como sabia,só sabia) que o sangue era seu.E que ela não havia se cortado.Ele simplismente escorreu sobre suas unhas,como um "scape".Era sua criança que sangrava.Eu vi o medo.E a menina ainda me olhava.
Mas que engraçado! Ela sorriu na minha direção,depois voltou a ficar séria,então senti o tempo mudar e,quase que
despercebidamente, eu ouvi num sussurro seus lábios se abrirem: "me ajude,me salve."
Aquilo me chocou,e sei que minhas asas se dobraram diante da tristeza que eu sentia mesmo quando ela voltou a sorrir.Como podia,tão pequena dentro da imensidão que eram aquelas cortinas azuis.São seus olhos menina,cortinas.

Reconheço,foram respeitosamente pintados sobre sua pele de porcelana.Pura por fora.Manchada por dentro.E manchada de medo,de orgulho,de veneno,e vaidade.Vaidade alias,que é só adorno.
Gosto de acreditar que em algum momento ela gostou de fazer tranças no cabelo.E que um dia ela tenha feito birra por uma boneca que não lhe fora comprada.Penso que,deve ter chorado assistindo um filme.Ou escrito versos que ninguém
jamais iria ler.

Onde foi que você se perdeu? Ah,não me diga.Foi dentro de ti,não foi?
Tu se perdeu nessa imensidão que é você.Eu sinto muito,não sei bem pelo quê.Só sinto.Pelas asas que lhe foram quebradas.
Vejo que as colou,mas que faltam partizinhas que de longe não se vêm,mas de perto fazem tanta diferença.Grandes cicatrizes de sangue no Anjo de Porcelana.É culpa do mundo.Ou nossa? Não é culpa de ninguém.Mas é que se o sol não queima,ninguém aprende a gostar da chuva.Tudo isso me passava pela mente e a verdade é que ela nem imaginava o quanto para mim,era bom ouvi-la.


- Mas,diga-me,o que você espera ?- eu perguntei silenciosa,certa de que talves ela lesse meu pensamento.

- Nem sei se espero.Como pode me perguntar "o que"? Talvez,eu espere o que não sei que espero. - Ela me respondeu,com o olhar longe.
Refleti por uns instantes,e suspirei:
- Entendo.É estranho,não é? Ser sempre inverno,ser tão monótono.Se posse lhe compartilhar um segredo,ultimamente
eu tenho sentido-me envenenada por essa mania de ser só.Acho que cansei,que não me quero mais.Que,quero
alguém que queira.Porque,ser minha me consome demais por ser tão fácil.E não me quero assim tão fácil.
Me quero longe,perdida no pensamento de outra mente.Me quero ao meio,e que a outra metade de mim me dê à
mão pra passear.Bom,é isso,não me quero.Eu quero,"querer" quem quer.

Ela riu.E foi tão lindo quando ela riu.Me encarou maliciosa,e disse:
- Você é tão leve criança,que,me divirto com tua visão de mundo.





                    Elisama Oliveira - "Para Gabriella Salomão,um verdadeiro Anjo de Porcelana"

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Somos todos Reis de nossos passos,erguidos pela vontade oculta no olhar da esperança.Guerreiros do mundo,e sós.Anjos de vidro,e fé.
Príncipes Indomáveis.