terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Anjo de Porcelana

           "Os meus pensamentos só falam minha língua,e eu estou cansada de ser só eu." G.S


São sempre tortos.Sim,os dias.Tais que riem maldosos na nossa direção.Que fizemos nós à essas ruas?
Pois,elas parecem nos rejeitar de forma fria.Pois bem,que esfriem.E lá estávamos nós,n'outra tarde,
nuas de degosto,penduradas de cabeça para baixo no ponto mais alto da vida.A esperança....

Era sempre tão sério,aquele semblante,tão egocêntrico.Que bela máscara!
Eu mesma não a manteria tão inteira.Que houve anjo? Foi na alma? Penso que tenha sido na alma.
Pois ousam dizer que são os olhos a janela da alma.E as suas,estão tão sujas.Num dia desses cheguei
a ver uma menina,(uma criança meu Deus!),era só uma criança,à me observar por dentre as cortinas,e veja só,suas mãos sangravam.Mas eu sabia (não sei como sabia,só sabia) que o sangue era seu.E que ela não havia se cortado.Ele simplismente escorreu sobre suas unhas,como um "scape".Era sua criança que sangrava.Eu vi o medo.E a menina ainda me olhava.
Mas que engraçado! Ela sorriu na minha direção,depois voltou a ficar séria,então senti o tempo mudar e,quase que
despercebidamente, eu ouvi num sussurro seus lábios se abrirem: "me ajude,me salve."
Aquilo me chocou,e sei que minhas asas se dobraram diante da tristeza que eu sentia mesmo quando ela voltou a sorrir.Como podia,tão pequena dentro da imensidão que eram aquelas cortinas azuis.São seus olhos menina,cortinas.

Reconheço,foram respeitosamente pintados sobre sua pele de porcelana.Pura por fora.Manchada por dentro.E manchada de medo,de orgulho,de veneno,e vaidade.Vaidade alias,que é só adorno.
Gosto de acreditar que em algum momento ela gostou de fazer tranças no cabelo.E que um dia ela tenha feito birra por uma boneca que não lhe fora comprada.Penso que,deve ter chorado assistindo um filme.Ou escrito versos que ninguém
jamais iria ler.

Onde foi que você se perdeu? Ah,não me diga.Foi dentro de ti,não foi?
Tu se perdeu nessa imensidão que é você.Eu sinto muito,não sei bem pelo quê.Só sinto.Pelas asas que lhe foram quebradas.
Vejo que as colou,mas que faltam partizinhas que de longe não se vêm,mas de perto fazem tanta diferença.Grandes cicatrizes de sangue no Anjo de Porcelana.É culpa do mundo.Ou nossa? Não é culpa de ninguém.Mas é que se o sol não queima,ninguém aprende a gostar da chuva.Tudo isso me passava pela mente e a verdade é que ela nem imaginava o quanto para mim,era bom ouvi-la.


- Mas,diga-me,o que você espera ?- eu perguntei silenciosa,certa de que talves ela lesse meu pensamento.

- Nem sei se espero.Como pode me perguntar "o que"? Talvez,eu espere o que não sei que espero. - Ela me respondeu,com o olhar longe.
Refleti por uns instantes,e suspirei:
- Entendo.É estranho,não é? Ser sempre inverno,ser tão monótono.Se posse lhe compartilhar um segredo,ultimamente
eu tenho sentido-me envenenada por essa mania de ser só.Acho que cansei,que não me quero mais.Que,quero
alguém que queira.Porque,ser minha me consome demais por ser tão fácil.E não me quero assim tão fácil.
Me quero longe,perdida no pensamento de outra mente.Me quero ao meio,e que a outra metade de mim me dê à
mão pra passear.Bom,é isso,não me quero.Eu quero,"querer" quem quer.

Ela riu.E foi tão lindo quando ela riu.Me encarou maliciosa,e disse:
- Você é tão leve criança,que,me divirto com tua visão de mundo.





                    Elisama Oliveira - "Para Gabriella Salomão,um verdadeiro Anjo de Porcelana"

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