sábado, 11 de maio de 2013


Um delírio

  Em um desses mil tesouros perdidos estão guardadas todas aquelas cartas de quem não soube não ter amor.
  Foi de longe que avistei,num cantinho, uma dádiva que me recusei a cumprimentar. Olhei, sorri silenciosa. Cobicei por três segundos até que o som da avenida voltou feito um golpe. Eu não tinha tempo pra aquilo.
  É apenas um efeito dessa guerra em que me encontro. Me impondo limites, me dizendo o que não fazer, ser, estar.  Apesar das mãos tão sóbrias, sinto como se cada flor que eu toco adoecesse.
  Oz está em ruínas, e nós somos os culpados pelas estradas encharcadas de cravos despenteados. Um breve declínio. Quatro anos e a mesma doença. Essa que nos obriga a atropelar os dias.
  Tenho envelhecido três quartos de tempo à cada colheita. Isso, à muito, não me traz orgulho.

  Quero emprestado teus defeitos, tuas dores, desentendimentos que eu entendo, só pra ter certeza de que estou indo na direção errada.
  Construí uma casa com muros tão altos que me esqueci do quanto odeio estar cercada. Um casa, que era nossa, e toda nossa no jeito de existir. Existia por necessidade. A mesma que eu sinto pela vida. A mesma que a vida sente por você.
  Me traz de volta meus delírios, me dá no fim da tarde aquela ilusão, bem docinha. Me engana de novo, se é assim que chamam a eternidade.Volta, criança. Porque eu não quero ser adulto. Não quero ter resposta pra tudo. Não quero isto que estou querendo. Não querer:nada.



Elisama Oliveira